terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Desmistificando a Infância (Tema da Redação Enem/2014)


     Houve um tempo em que, os que hoje chamamos de crianças, nada mais eram que pequenos adultos, com responsabilidades e deveres. Temos exemplos mais extremos dessa afirmação na China antiga, onde vários imperadores ascenderam ao trono ainda crianças devido à morte do pai. No Brasil, tivemos o jovem Dom Pedro II, que tinha somente cinco anos de idade quando foi instituído herdeiro do trono brasileiro. Podemos citar também a infante Carlota Joaquina, que com 10 anos se casou com Dom João VI, essa em especial tem curiosidades interessantes.
     "Durante a noite de núpcias, a princesa Carlota agrediu o esposo mordendo-lhe fortemente a orelha e atirando em seu rosto um castiçal. Depois desse episódio, foi feito um ato adicional ao contrato de casamento permitindo que Dona Carlota pudesse ter sua primeira relação sexual com o marido aos 14 anos, podendo voltar atrás caso assim ela quisesse, ou seja: se ela quisesse fazer sexo antes dos 14 anos, poderia. Um certo Padre, José Agostinho de Macedo, imprimiu uns folhetos contando esse caso da noite de núpcias de forma brincalhona e sarcástica com o título "O gato que cheirou e não comeu" (…)".  A princesa, indignada com o escrito, mandou dar uma surra de chicote nas nádegas do Padre, despí-lo em praça pública e aplicar uma "seringada" de pimenta do reino no seu clérigo traseiro e depois soltá-lo nu no Bairro das Marafonas. O matrimônio, é claro, foi um fracasso. A vida sexual do casal só começou realmente cinco anos depois, quando Carlota menstruou pela primeira vez". Assim seguia a vida, com pequenos homens e mulheres recebendo desde cedo um peso que ia além de suas forças e, por vezes, os tornavam adultos com sequelas, até que em um belo dia foi inventada uma coisa chamada infância,  e daí por diante, tudo mudou.

     Essa ideia nova dizia que estes pequenos seres eram indefesos, eles precisavam ser protegidos e receber meios para se desenvolverem da melhor forma possível. Assim, lhes foram assegurados direitos e responsabilidades foram delegadas a seus progenitores e responsáveis legais. Entre estes direitos estava o de não ter explorada sua mão de obra (direito esse, que bem sabemos, muitas vezes, em diversos lugares não é respeitado). Essa lei não deixou alegres aqueles que tiravam proveito desta mão de obra barata e abundante, fazendo com que a busca por uma forma de reaver seus lucros se iniciasse.

     Suponho que, pelo fato de já não se poder explorar essa nova classe como mão de obra, surgiu então a idéia de explorá-la como classe consumidora, e assim surgiu o ramo infantil na indústria, que se expande cada vez mais através da Publicidade Infantil. Afinal, se existe um produto a venda, existe uma equipe de marketing tentando tornar esse produto atraente para um determinado grupo. Hoje em dia, os carros-chefe desse mercado são o cinema e a TV, já que estes são os maiores veículos de divulgação dos personagens que mais tarde ilustrarão os brinquedos, roupas, materiais escolares, embalagens de salgadinhos e tudo mais que possa ser colorido e dê a esse ser humano em construção a impressão de precisar deles para ser feliz. Todos querem uma fatia desse bolo, não importando as consequências.

     Todos nós estamos sujeitos às influências da propaganda, que a todo momento nos passam idéias sobre uma beleza e uma felicidade que não são reais. O problema é o dano - este sim real - que essa ilusão pode causar a uma criança que pensa que só será aceita pelos amigos se tiver aquele tênis, que só poderá seguir a carreira de jogador de futebol se tomar aquele achocolatado ou que terá uma vida muito mais interessante depois de conseguir aquele álbum de figurinhas holográficas que brilha no escuro e muda de cor debaixo da água quente ou fria.

     A maior parte dos produtos oferecidos são desnecessários, supérfluos e de baixa qualidade, visivelmente só desejam os lucros, mas não apenas os lucros presentes. Visando lucros futuros, os grandes empresários deste ramo objetivam criar os jovens em uma cultura de consumismo, na qual "quero" e "preciso" se confundem, criando compradores compulsivos. Desta forma, são louváveis as leis que propõem regras para a produção dos conteúdos de publicidade destinado às crianças, a fim de protegê-las, minimizando danos psicológicos e sofrimentos futuros, garantindo que crianças possam ser crianças, e não mais pequenos adultos.

     O tema da redação do ENEM desse ano me deixou meio nostálgico, pensando na minha infância e em todos os momentos felizes que eu passei com personagens poderosos, que cresciam a cada obstáculo que encontravam na vida e se tornavam cada vez mais amigos, fiéis, sábios e etc. Dai ele me fez perceber que no final nas contas o que eles queriam me ensinar mesmo era a comprar os bonecos, álbuns de figurinhas, chicletes e tudo mais que pudesse estampar a imagem deles.
Por um lado uma desilusão, por outro, apenas uma abertura mental que me possibilitou perceber a quanto tempo eu estou inserido neste sistema capitalista, mesmo sem me dar conta. Seja como for, foram bons tempos, mas essa é apenas a Minha Humilde Opinião.

Ass: Bruno Santos

Revisado por: Caroline Macedo

Fontes:
http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Carlota_Joaquina_de_Bourbon

3 comentários:

  1. Ótima postagem.

    Hoje em dia as crianças estão perdendo sua identidade e a mídia e publicidade só luram com isso , por isso estimulam.
    Por incrível que pareça a decisão de compra das famílias é feita 50% pela vontade das crianças,e então vendem tanto com a boneca que usa batom e saia curta quanto com a maquiagem, o sapato e a saia da tal boneca , o que faz com que os pais devam prestar atenção porquê nem tudo que é INFANTIL é próprio para crianças USAREM .
    Muitas pessoas estimulam a vaidade excessiva das crianças que andam como verdadeiros " adultos mirins" o que muitas vezes faz com que ouçam : Nossa,parece ser sua irmã!"ou " lindinho como o pai" aumentando assim sua estima mas tirando a identidade infantil que a cada dia mais se perde e o tempo não traz,pelo contrário, a tendência e fazer com que crianças tenham hábitos cada vez mais avançados e assustadores .
    Criança tem que aproveita o momento mais bonito da vida e não pular a única parte que pode livremente para ser realmente feliz de uma forma espontânea e pura sem a aflição do malfeitor boleto do fim de mês.

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  2. Incrível Bruna.

    Seu comentário foi um complemento e tanto para o texto, vindo de uma profissional da área de publicidade, foi fundamental, agradeço pelo carinho.

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  3. O que é mais interessante nesta história é que a ‘’concepção de infância’’ está retrocedendo. Se há séculos os pequenos eram vistos como mini adultos, sem terem suas particularidades (físicas e psicológicas) reconhecidas e respeitadas, hoje esta mentalidade está voltando.. As crianças voltaram a ser inseridas no meio adulto como se dele fizessem parte, naturalmente, pulando esta etapa tão importante de suas vidas.. As brincadeiras de rua, que fizerem parte da minha infância, estão desaparecendo em muitos lugares, e apesar da força do mercado dos brinquedos, hoje vemos crianças pedindo de presente celulares e tablets de ultima geração.. E eu me pergunto: para que?? As roupas se assemelham as adultas (novamente) a ponto de lançarem SUTIÃ DE BOJO PARA MENINAS!! E não para por ai, as crianças estão cada vez mais precoces, na mentalidade e comportamentos, e isso é mesmo assustador! De fato, o mercado consumidor e o ramo publicitário têm grande culpa/interesse nessa ‘’inversão de valores’’. Como esta ideia (de infância) foi construída social e culturalmente, não é uma surpresa que se modifique ao longo da história, como tudo aquilo fruto da produção humana, principalmente quando interesses econômicos estão em jogo.. Fico me perguntando aonde vamos parar assim..

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Estou aberto a criticas construtivas e informações novas (ou não) que queiram dividir. Mas, lembre que mesmo na internet somos responsáveis pelo que falamos.