segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Ônibus


     Estar em um ônibus é uma experiência que atiça os sentidos, a audição com a conversa dos outros, o olfato com os perfumes das meninas e as axilas dos peões, o tato com o roça-roça, a visão com... não, a visão não, a regra é fingir que está dormindo pra não ter que dar o lugar pra ninguém, ou passar a viajem toda olhando pro celular, a não ser, é claro, que aconteça um acidente, nesse caso a regra é sair do lugar a procura do melhor ângulo para visualizar as perdas alheias. Muita coisa no ônibus pode irritar, desde a rampa para deficientes que nenhum motorista sabe usar até a biometria para os estudantes que tem dado bastante dor de cabeça e nem quero começar a falar sobre os aparelhos de rádio no interior do veículo, mas uma das coisas que mais me irrita é ter que pegar um lotado.

     E o que mais me irrita no ônibus lotado não é a falta de espaço ou o desconforto, o fato das pessoas acharem que adquirem o dom da intangibilidade cada vez que pedem licença ou estudantes que não tiram as mochilas das costas, o que me irrita de verdade é a hostilidade das pessoas quando estão em um ônibus assim, não sei se isso é causado pelo calor humano, por alguma substância existente no suor que libera instintos primitivos ou se é só o povo da minha linha que é mal educada mesmo. O fato é que o ponto em que subo no ônibus é bem avançado, significa que meu ônibus que já sai do Terminal Rodoviário João Goulart, em Niterói, sem acentos livres, completa sua lotação ao longo do caminho, chegando muitas vezes ao meu ponto com sobrecarga de passageiros.

     Mas você acha que isso me impede de subir? "Sabe de nada inocente!" Só tem ônibus de vinte em vinte minutos e todos vem lotados no horário de pico, que é das 17 as 19:30h, se eu for esperar um vazio vou ficar esperando em pé no ponto esse tempo todo depois de ter trabalhado o dia inteiro. E considerando que muitos motoristas passam direto quando estão lotados, não posso me dar ao luxo de ficar escolhendo. Ou seja: parou, subi.

     Acontece que as pessoas que subiram no ônibus no ponto anterior ao meu, já o pegaram cheio, mas mesmo assim se acham no direito de me criticar, como se eu estivesse cometendo um crime. Eu quero chegar em casa tanto ou até mais que qualquer uma delas, por quê eu tenho menos direito que elas? Nenhuma pessoa normal pega um ônibus lotado por achar divertido, e quando eu digo pessoas normais não incluo aqueles tarados que gostam de ficar atrás das moças de bermuda tactel e sem cueca, estou falando de pessoas com filhos pra buscar, familiares para alimentar, compras para fazer, contas para pagar.

     Todos querem conforto, mas as vezes é necessário abrir mão dele por uma causa mais nobre. Quando você está em um aperto danado e vê uma senhora com sobrepeso fazendo sinal para o ônibus, pode até achar que ela é louca, mas duvido que você gostaria de estar no ponto frio e escuro sozinha(o), correndo o risco de ser vitima de um assalto, violência ou sabe-se mais o que. E por mais que você pense que não, os idosos e deficientes não saem de casa pensando " hoje eu vou incomodar pra caramba, cuidado busão!", eles só querem chegar a algum lugar, assim como você. Precisamos aprender a nos colocarmos no lugar dos nossos irmãos.

     O motorista não recebe o salário dele por comissão de acordo com o número de passageiros que leva, se forem 75 ou 140 ele vai receber a mesma coisa, então não pense que ele enche o coletivo por ganância, ele quer que as pessoas cheguem em seus destinos, assim como ele vai querer chegar em casa quando sair da garagem após a ultima viagem, não é fácil dirigir aquele monstro e ele ainda se preocupa em olhar as estradas esburacadas, parar nos pontos requisitados, dar troco e zelar pela ordem dentro do coletivo, vamos respeita-lo e trata-lo com o respeito e a educação que a função merece, mesmo que nem sempre a pessoa mereça tanto assim.

     Todos tem direito de ir e vir, pelo preço que pagamos deveria ser ir e vir com conforto e segurança, mas não é culpa do irmão ou do motorista se não temos, se quer reclamar, que seja diretamente com a empresa ou com a ANTT ( Agência Nacional de Transportes Terrestres), só assim a empresa vai liberar mais ônibus, renovar a frota, dar treinamento, etc. Se as pessoas reclamarem no lugar certo, talvez as pessoas erradas não precisem ficar aguentando piadinhas, olhares atravessados e nem agressões, mas essa é apenas a Minha Humilde Opinião.

Ass: Bruno Santos

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Sensacional o texto! Muito bem-humorado também! Expressou todos os meus pensamentos e um pouco mais! Adorei o primeiro e segundo parágrafos. Ficaram divertidos! Rs ' Gostaria de comentar tudo rs mas para não me estender muito...Não me incomodo tanto com o fato de ser obrigada a ouvir a música preferida do irmãozinho que ainda não entendeu para que servem os fones de ouvido, o que não entendo mesmo é porque existem caixas de som nos ônibus, para ‘’distrair’’ o motorista? Pessoas sobem e descem levando seus celulares barulhentos, mas a caixinha de som permanece lá.. E falando no mocinho / vilão da história, não tenho essa visão tao romântica do motorista bonzinho que para em todos os pontos (mesmo quando já tem gente saindo pelas janelas) só porque é muito solidário.. Pode até ser, em alguns casos, mas na verdade acho que ele fica com receio de não parar e depois ser chamado atenção porque alguém anotou a placa e encaminhou uma reclamação a garagem.. Sabemos que isso acontece, o motorista sempre é o culpado de tudo :/

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  3. Hum... gostei! Na verdade, lotar o ônibus no terminal é bastante comum, e alguns despachantes só deixam as lotações saírem, lotadas! hahaha A falta de ônibus para a demanda é o que causa a maioria das situações que nos desagrada... algumas linhas possuem tantos, que os têm de cinco em cinco minutos. Agora então com esse aumento na passagem e as mesmas condições de calor, desconforto, descaso; penso mesmo em começar uma vida saudável e que casar que nada, vou é comprar uma bicicleta! hahaha

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Estou aberto a criticas construtivas e informações novas (ou não) que queiram dividir. Mas, lembre que mesmo na internet somos responsáveis pelo que falamos.