domingo, 21 de janeiro de 2018

Só uma opinião de leve.

     Hoje o dia acordou triste para muitos jovens brasileiros. O motivo? Suas notas baixas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que os deixaram um pouco mais longe do sonho de cursar uma faculdade. Para mim, o dia amanheceu triste por outro motivo: eu assisti o clipe da versão light  de "Só Surubinha de Leve". É meus amigos, a curiosidade não matou o gato, ele se suicidou de tanto arrependimento. Mas, já que eu me submeti a isso, que ao menos sirva para embasar uma reflexão. Afinal, com toda tribulação vem uma lição.

     Vivemos em um país onde um " artista" divulga a descrição clara de um estupro em ritmo festivo e descontraído, mas acha o ato tão normal que, quando as pessoas criticam negativamente, ele pensa que a causa é o fato dele não levar a vítima para casa depois. Ou seja, embebedar mulheres, drogá-las ou até dar o famoso "boa noite Cinderela" e usá-las como objeto sexual (talvez até em uma orgia) é normal, mas descartá-la em um beco escuro qualquer já é demais... gênio!


     Era de se esperar que em pleno Século XXI os homens tivessem se dado conta que manter relações sexuais com uma garota drogada ou embriagada se qualifica como estupro, mesmo com o "consentimento" dela. Consentimento entre aspas, tendo em vista que ela não está sob perfeitas condições de raciocínio para a tomada de decisões. Homens que se valem desses recursos para alcançar suas pseudo conquistas demonstram apenas que possuem mentes perversas, incapazes de conquistar uma mulher através de uma conversa, por exemplo. Incapazes de se conformarem com a ideia de que pode não haver conquista. Que pode haver um ''não'' por parte das mulheres e que isso deve ser respeitado.



     Tendo dito isso, vale ressaltar que essa música em particular nem é uma das mais pesadas do funk carioca, por incrível que pareça! Existem relatos de abusos bem mais completos e chocantes, relatos de pedofilia e abandono, alguns baseados em fatos reais. Estas músicas tocam frequentemente nas comunidades periféricas do nosso Estado, onde - aparentemente - não incomodam tanto. Claro que o aumento do acesso à informação está levando o funk para todas as partes do Brasil e do mundo, que este mesmo acesso está desenvolvendo um senso crítico sobre o que consumimos e ouvimos e sem dúvida nos possibilita um posicionamento em relação a isso.



     Entretanto, não é de hoje que músicas com letras pesadas e boas batidas, caem nas graças do povo. Muitas delas já ganharam versões light para serem veiculadas nos meios de comunicação de massa. Para citar as mais recentes, que tal ouvir a música "Bem Querer" do MC Livinho? Ou ''Baile de Favela'', do MC João e "Mama", do MC Catra e Valesca Popozuda. Ou uma das músicas mais escutadas em 2017: a "Deu Onda", do MC G15. No final do texto tem um link com as versões originais e modificadas das mesmas. 



     Por coincidência - ou não - todas estas músicas estavam em alta quando o Senado vetou o projeto de Lei que tornaria o funk "um crime contra a saúde pública de crianças, adolescentes e à família". Será que a votação teria um resultado diferente se acontecesse amanhã? O Projeto de Lei criado por Marcelo Alonso, um webdesigner de São Paulo, alegava que os bailes funk são redutos de criminosos, estupradores e pedófilos, e que visava apenas atendê-los e ajudá-los no recrutamento de jovens e adolescentes, além de incentivar o uso de drogas e álcool. O Relator do caso, o Senador Romário(Pode-RJ) afirmou que o projeto era inconstitucional por cercear a livre manifestação cultural e de pensamento.

     Porém, não é de hoje que o Funk tem problemas com a justiça. A música "Um Tapinha Não Dói" de autoria de MC Naldinho (letra) e Dennis DJ, foi gravada por Naldinho & Bela para o álbum Furacão 2000 - Tornado Muito Nervoso 2, no início dos anos 2000. A canção logo se tornou um sucesso, inclusive internacionalmente. Em 2003, uma ação foi ajuizada pelo Ministério Público Federal e pela ONG Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero contra a música, por considerarem que "ela banaliza a violência contra a mulher, transmite uma visão preconceituosa contra a imagem da mesma, além de dividir as mulheres em boas ou más conforme sua conduta sexual". Em 2010, depois de sete anos de tramitação na Justiça Federal, a empresa detentora dos direitos da música (Furacão 2000 Produções Artísticas Ltda), foi condenada, em primeira instância, a pagar uma multa no valor de R$ 500 mil. Em 2013 - 3 anos após a condenação - o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Rio de Janeiro) absolveu a empresa Furacão 2000 após o desembargador federal Cândido Alfredo Silva Leal Júnior considerar que "letras de funk como a desta música podem até ser de mau gosto, mas não incitam a violência".

  Enquanto eu me esforçava para chegar ao fim do clipe do MC Diguinho, muitos pensamentos passavam pela minha mente. Será que as garotas que ouvem e dançam essa música em casa ou em uma balada possuem clareza sobre o que está sendo tratado? Ou elas apenas dançam como dançariam qualquer música em inglês mesmo que não soubessem o que está sendo dito? Essa música, que já foi retirada do Spotify, alcançou a marca de 14 milhões de visualizações no YouTube. Teve quem ouviu e achou graça, quem sentiu nojo, quem se manifestou e quem se identificou. Por mais reprovável que seja, essa música exprime uma realidade.

     Mulheres sofrem abusos todos os dias! E agora as pessoas estão falando sobre isso. Não era a intenção do artista, certamente, mas está servindo para isso e essa conquista deve ser explorada. Afinal, é uma discussão importante conseguindo espaço na mídia. Tenho a esperança que esse episódio servirá para que mais homens se conscientizem sobre seus atos, que mais mulheres escutarão de forma crítica as músicas que estão dançando e que os artistas encontrarão o equilíbrio entre o poético e o ofensivo. Mas, essa é apenas a Minha Humilde Opinião. 

Ass: Bruno Santos


Fontes:



 

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